27 de novembro de 2004

viagem a nenhures

pensei parar o tempo,
parar os lugares,
as pessoas,
olhar tudo por um instante,
recordar, prever, sonhar,
descansar por um momento,

pensei...,
voei, sonhei, recordei,
lá longe.
olhei,
admirei a distância a que estava de tudo,
por lá fiquei, perdido em lugar algum.

regresso de nenhures,
volto a caminhar.
é hora de soltar o tempo.

8 de novembro de 2004

entre nós

Escrevo palavras que me desvendam,
palavras que me trazem de volta um pouco de ti,
palavras que caminham no limbo do imaginário.
Imagino-te, sonho-te,
desvendo-te em cada letra,
em cada palavra de um texto que cresce,
de uma história que começa...

29 de outubro de 2004

petit voyage



lá estava eu numa terra onde nunca houvera posto os pés, ao abrigo de uma língua esquecida algures no liceu ou talvez nunca aprendida. Lá consegui apanhar o autocarro e olhei atento, o caminho todo, as pessoas, os edifícios e as ruas cheias de vida.Com um pequeno vislumbre da cidade, desci ao subsolo e fui levado pelo metro ao encontro do amigo que me esperava na silmo, uma importante feira de óptica. Aí começou uma pequena incursão ao mundo das armações, das lentes e dos expositores que as mostravam. O primeiro impacto foi o de achar que era a única alminha que não trazia consigo uns óculos, último modelo, com uma cor extravagante. Nada, entre mim e a pessoa que olhava, apenas os meus olhos. Senti-me nú e um ser de outro planeta. Lá encontrei um ou outro adepto da nudez, mas todos juntos não podíamos formar uma banda, por certo faltar-nos-ia o baterista ou o percussionista, quem sabe, o vocalista. Caíram por terra todas as minhas ambições de criar uma banda que ficaria conhecida por opticalnaked e aspirar a um lugar no top +. O pavilhão por onde iniciei a visita à exposição era o pavilhão trend, ou seja, o mais inovador, ou mais criativo, ou mais esquisito, como queiram.Nos dois dias que se seguiram alternou-se um pavilhão e outro sempre numa acelerada, no entanto, selecta escolha da nova colecção. Nada que uns olhos já de si treinados e um rigoroso sentido estético não ajudem a levar a bom cabo. E para que não comecem com comentários ou pensamentos sobre o meu egocentrismo, referia-me ao meu amigo. Nessa tarefa fui apenas um observador, tecendo aqui e ali um ou outro comentário, tentando ajudar numa ou noutra escolha, para mim mais fáceis e mais óbvias, tentando sempre perceber porque era este ou aquele modelo escolhido e aquele outro posto de lado.
Ia também tirando umas sorrateiras fotos aos modelos escolhidos, a pretexto das quais fui chamado à atenção inúmeras vezes. Fazia sempre um ar parvo e atónito em sinal de uma ignorância pelas normas da casa.


Fora deste mundo à parte de paris, deu ainda para ir vendo a cidade.Os lugares comuns e outros menos calcados pelos pés dos turistas, nos quais eu me incluo orgulhosamente.Fiquei com a sensação de ter despoletado algumas animosidades pelo macarrónico francês com que abordava as pessoas. Também eu ficaria chateado por ouvir alguém assassinar a minha língua, com tanto empenho como o faço. Enfim, estão desculpados por algum episódio menos simpático. Mea culpa. Paris é todo o conjunto de pessoas com que tive a oportunidade de falar, conhecendo-lhes as mais variadas origens.
Paris é a frustração sentida ao apagar as fotografias de um dia por mero descuido,
É também o cansaço sentido ao subir as escadas, do metro e do escadório, que nos levam à igreja do sagrado coração (não vale a pena tentar escrever em francês, não sei mesmo).
Paris é ainda aquele espectáculo de órgão na catedral de nossa senhora, é a chuva miudinha que caiu ali pertinho do sena e o medo que esta passasse a miúda ou a sra.
paris é aquela loja, onde fui mal atendido, é o senhor que atenciosamente explicou o caminho, é o curioso alemão que personificou um turista excursionista,
é a velhinha que faz caricaturas de quem janta em troca de 5 euros,
é o sr. do escadório que me explicou o porquê da mudança de cor na torre que se iria verificar naquela noite,
é o constante saltar das cancelas do metro, paris é ainda o conjunto de japoneses que por mim passaram no louvre, cheios de pressa, para poderem tirar uma fotografia à mona lisa.
Paris é a linda miúda que me pediu um cigarro com um sorriso esboçado.
É a mulher bonita que eu vi repetidamente, sentada no metro, na esplanada de saint dennis , no meio da multidão, à porta da vogue.
Paris é tudo isso, tudo o mais que eu vi, e tudo o que ficou por ver...
paris será um dia paris.

28 de outubro de 2004

perdidos no tempo

Ao longe, uma voz contínua que me empurra o pensamento para bem longe daqui. Montado na caneta, escrevo palavras que me levam no seu vagaroso cambaleio pelo atribulado mundo de uma vã tentativa de dizer algo, de esquecer este momento que me prende no tempo ao sabor de um irritante monólogo.
Que capacidade terá este ser para conseguir parar o tempo?
Fiz um desenho, aqui mesmo ao lado, nesta folha onde prevalecem mensagens escritas com a colega do lado, e uns quantos jogos do galo.
Voltei a este grito dissimulado em fuga às tediosas palavras que me recuso a ouvir. Pergunto à colega da frente se sabe de que fala ele agora. Não sei, perdi-me à bocado – responde.
Alguém peça, por favor ao senhor, que dê corda ao relógio, e deixe o tempo seguir o seu rumo.

11 de outubro de 2004

Um maravilhoso casulo, onde dois amigos se transformam, onde acaba um sonho e começa a realidade. Dois homens, numa viagem à essência do ser, que nos abandonam com um profundo desejo de fazer as malas à conquista de uma terra sem fronteiras, em busca do “eu”.

24 de setembro de 2004

viagem ao mundo dos sonhos

À hora combinada lá estava eu, perdido numa rua ao lado, à procura do dito café onde ficámos todos de nos encontrar. Subi e desci a rua que nos leva do Saldanha à Estefania. Pedi orientações a algumas pessoas e, tinha a sensação de ser aquela a rua onde se encontra o ciné-estúdio 222 mas, deram-me várias indicações valiosissímas para um maior atraso. Uma mulher que passava na rua acompanhou-me a uma outra, transversal, dizendo-me que era ali logo à frente. Em frente ao dito, deparo-me com o ciné-bolso. Embora tivesse chegado a um cinema não me servia o propósito. Eu procurava mesmo um café que dá pelo nome de capuccino, pertinho do tal cinema que ninguém me soube indicar e onde eu não cheguei por pura distracção. Eu já lá tinha ido ver um ou dois filmes e lembrava-me que não tinha andado muito desde o saldanha, era ali a meia dúzia de passos. Voltei atrás e lá cheguei ao café onde me esperavam companheiros de outras andanças, de outros tempos.
1996, foi o ano em que se deu o primeiro encontro das almas que ali se reviam e, na altura os tempos eram outros. Ninguém tinha nem pensava em ter filhos. Tempo em que ninguém sabia muito bem o que o futuro traria. Agora, o futuro chegou e trouxe uma filha à Mafalda, que é uma miúda linda e nos olha quando ouve o nome Leonor e, com um pouco de sorte, nos esboça um sorriso caso nos encontre alguma peculiaridade hilariante. Neste futuro, que foi ontem, encontrei também uma mãe em gestação preocupada em não fumar, diga-se, com êxito na demanda. Deparei-me com outro ser alterado pelo síndroma da paternidade que se juntou às meninas numa interessada conversa sobre roupas para crianças.
Já se fazia tarde, quando nos pusemos a caminho de um restaurante, ali perto e, mesmo em frente ao teatro onde acabámos por ir ver o “the scum show”, não sem antes jantar com o Alexandre co-responsável pelas mais recentes preocupações da Rita em deixar de fumar.
Não vou comentar a peça porque poderia ser tendencioso (e quem sou eu para comentar teatro?), mas preparem-se para encontrar deliciosos pormenores de encenação acompados por um magnífico som da responsabilidade dos the gift, cujo CD me acompanha agora neste acto de escriba. Esquecendo um pouco as obrigações deste futuro que virou presente, lá resolvemos continuar a noite por um momento mais...
Acabei com o Pedro e com a Sofia no café onde nos encontrámos antes da peça. Uns copos mais tarde, e muita palavra gasta em primeira mão, lá decidimos continuar a reposição dos factos noutro encontro, a realizar na casa da Sofia, que talvez chegue a acontecer.
Fui para casa ao encontro de umas parcas horas de sono, ciente do quão difícil seria ouvir o despertador no dia seguinte e chegar a horas ao trabalho, quando fui assaltado pela sensação de estar de volta numa viagem pelo tempo tendo chegado a um lugar onde os sonhos se desvaneciam numa realidade de ténues ambições.
Deitei-me e sonhei com o amanhã, mas esse está ainda por escrever.

16 de setembro de 2004

re-escrita

Teclas e mais teclas que se rebaixam no confronto dos meus dedos,
recriando pensamentos que surgem fortuitos no ecrãn.
Palavras que se escrevem e que se apagam sem deixar rasto,
sem memória de ter um dia existido.
Tentativas vãs de descrever algo que não se escreve.
Encontros e desencontros.
Reencontros que acontecem sem pressões, sem confrontos,
palavras que voltam para serem lidas, sentidas.
Sentimentos que voltam, em silêncio, sem nunca ter partido.
Folhas em branco que carregam em si a memória de páginas soltas,
Uma história que se escreve, que se continua.

4 de setembro de 2004

just words

Não tinha nada para fazer e resolvi escrever umas letras, na expectativa que elas se unissem e dessem algum sentido a uma frase que transmitisse tanto ou tão pouco. Escrever para ti, palavras que crescessem à medida que fossem lidas, quem sabe até acrescidas pelo saber de ti que me lês.
Escrever pelo gozo que dá transcrever um pensamento à espera que chegue a emoção, à espera que venha a inspiração e que dê sentido ao que lês.
Continua a ler, ou pára e segue a tua própria escrita, o teu próprio pensamento, faz o que quiseres, deixa correr a tinta, deixa fluir o pensamento.
Lê outro texto, fecha a janela, vai dar uma volta, vai ao cinema, ou continua a ler isto que nada te diz, senão que a mim me deu para escrever ao sabor das palavras, ao ritmo das teclas.
Escrevo sem sentido, sem rumo, sem querer chegar a conclusão alguma, na certeza de que o pensamento continuará quando chegar o ponto final, quando as letras se esgotarem em palavras que se repetem que nada acrescentam às antecedentes.
Letras, palavras, frases desmemoriadas todas juntas para dizer, nada.

31 de agosto de 2004

jantar às 8h

Por volta das oito, lá estava eu como combinado, dei-lhe um toque para o telemóvel e aguardei que descesse. Após breve instante de indecisão, lá resolvemos ir jantar a um lugar onde nenhum dos dois houvera ido. A conversa seria longa, cheia de percalços e novidades, com muitas histórias para contar.
Um pouco desiludidos com a variedade da oferta, lá nos mantivemos sentados numa escolha calma e intercalada com muita conversa e uns goles de martini. Sem pressa lá continuámos em sintonia, apressando apenas as palavras por forma a contar, dizer, conversar, esclarecer, enfim, por forma a recuperar dias, meses, uma eternidade de apenas 4 meses.
Pouco tempo, dizem vocês. E razão teriam, não tivessem sido esses mesmos meses marcados pela mudança de dois seres.
Era um primeiro encontro de dois amigos que já não eram os mesmos.
E querem saber mais? Com todas alterações, mudanças, diferenças com que nos deparamos, apercebemo-nos que a amizade era a mesma.
O jantar esteve óptimo, acabou com os copos vazios, corpos cheios de emoção e a alma aquecida.
É bom ter de volta uma companheira de an(danças).

26 de agosto de 2004

tacteando

interstícios que deixam vislumbrar a textura da tua pele,
dessa fronteira que te alberga,
dessas mãos que ardem quando tocam no limite do meu ser.

deixa-te estar assim, em silêncio,
deixa a tua mão em repouso na minha face,
fecha os olhos e sente esta muralha que é minha pele,
entregue a ti, ao teu toque.

20 de agosto de 2004

és

Gostava de atribuir a estas letras todo o esplendor daquilo que és, daquilo que foste, daquilo que serás.
Gostava de dar vida a essas palavras que não consigo escrever e ter-te aqui.
Gostava de ter um espelho que te projectasse lá do mundo dos meus sonhos tornando-te real e palpável.
Seria bom despejar-te nestas palavras, ao teu cheiro, ao sabor da tua pele, poder ler estas frases e ouvir a tua voz.
Seria bom, mas não o consigo fazer, és muito real, és tudo aquilo que eu não consigo escrever, és toda a beleza impossível de explicar.

17 de agosto de 2004

dias de silêncio

Lá longe, onde as letras não se unem,
Lá onde a mente pára por um instante.
Serenei em amenas tardes de cavaqueira,
Entre uma e outra cartada,
Entre folias,
Entre amigos,
velhos, novos, feitos e por fazer,
Entre uma e outra carta,
Entre este e aquele instante,
Perderam-se entre conversas,
Entre sorrisos,
Na cumplicidade daquele olhar,
Daquele carinho,
Perderam-se no cambalear dos corpos ao sol,
Entre um e outro toque.
Ao sabor dos ventos e das marés,
Foram-se, lá longe onde fui...
Esses dias, prisioneiros desta mente.

29 de julho de 2004

foi

O tempo passa e leva consigo mais uma dia da vida de todos,
Pessoas e mais pessoas,
com pressa,
com vagar,
andando, correndo.
Como ontem, também hoje continuam a passar, uma e outra vez, para um lado e para o outro... Seguem apressadas receando chegar atrasadas ao resto das suas vidas. Enquanto o fazem, esquecem-se de ir vivendo,
Esquecem-se de cheirar,
de olhar,
de falar com o outro que também segue apressado
e do outro ainda que deixaram para trás em passo lento e incompreendido.
Não há tempo, dizem.
Amanhã, quando deixarem de correr atrás do tempo, talvez vejam que era impossível agarrá-lo.
Mas será tarde demais, porque o tempo não perdoa, segue o seu rumo transformando o futuro em passado, ambições em memórias que também um dia se perdem num passado que está por acontecer, em que o presente não mais é...

27 de julho de 2004

antes das horas

Um miúdo chuta uma bola,
E o pai atira-se ao chão com grande alarido,
Fazendo-lhe crer que fora um grande remate,
Sorriso e novo remate,
Mesmo ao lado uma bola que vagueia entre duas raquetes,
Toc...,...Toc,Toc...,...Toc
Um casal sentado mais adiante num mundo que a eles pertence.
Alguém que chama pelo meu nome,
Uma e duas vezes, até que eu perceba que é mesmo por mim que chamam,
Um amigo que pergunta se quero ir jogar futebol com mais três marmanjos,
Enfim, resolvo continuar a fazer nada.
Um senhor que me pergunta se quero gelados, ou água e que segue perguntando a outros mais,
Uns quantos putos que passam em correria atrás de um bikini vermelho que segue aos gritos, em direcção da água,
Areia para cima de mim,
Um calor imenso que me rodeia,
A areia que se me pega,
Uma amiga que me pergunta,
Queres ir à água?
O que vos digo?
A praia estava óptima,
mas sequei-me e agora são horas de trabalhar.
Seria bom poder dizer que é para o bronze, mas não.

24 de julho de 2004

no silêncio das palavras

Palavras que voam entre cá e lá,
Palavras tuas,
Palavras minhas,
Nossas,
Palavras deles que nos lêem.
Insignificantes letras que se unem para te dizer...
Para te dizer aquilo que tu já sabes,
Palavras que não se dizem,
Palavras que não se escrevem,
Essas que não se ouvem,
Palavras que eu não penso,
Palavras mudas, cheias de sentimento,
Sabes quais são, não sabes?
Sim essas mesmas, as palavras sem som que eles não lêem.
Palavras que eu sinto,
Palavras que tu lês ainda que eu não escreva.

20 de julho de 2004

vidas que passam

Alguém que passa entre muitos outros deixando não mais que a memória de uma rápida fuga do meu horizonte.
Lá fora é assim, entre uns e outros, todos passam alheios ao que aqui se passa, alguns olhares fortuitos, uma ou outra pessoa que se aproxima para ver o que aqui se faz.
Aqui dentro observo-os, alheios que estão do meu olhar, faço-o sem pudor, olho-os de alto a baixo. Pessoas e mais pessoas, a passos lentos, rápidos, a correr, olho-os metidos que estão nas suas vidas.
Parou alguém mesmo aqui em frente, uma elegante mulher, camisola branca, mala preta em pele com umas riscas lisas de um qualquer tecido, a tiracolo. Um telemóvel fez com que ela parasse aqui, sujeita ao meu voyerismo, observo uma saia preta e logo desvio o olhar para as pernas que trazem à memória lembranças de uma praia, escondida algures no passado.
Desligou o telemóvel, e voltou no sentido inverso ao que levava. Alguma coisa terá acontecido, mudando o seu rumo. Alguma coisa fará com que as pessoas passem aqui e sigam o caminho, rumo às suas vidas. E eu seguí-las-ei até que se desvaneçam no resto das suas vidas.



15 de julho de 2004

3.80mx3.50m

4 paredes brancas, tecto branco com dois projectores com lampadas de hálogeneo dicróicas.
Em frente, uma parede com 3 painéis A3.
Atrás uma estante branca, quadrada com 16 nichos de arrumação.
Atrás à direita um estirador com o tampo inclinado e uma mala pendurada, atrás dele, uma janela por onde o sol espreita pelos orifícios das persianas.
À esquerda um quadro de 1.50mx0.80m em tons quentes pendurado na parede por cima de uma cama à esquerda da porta entreaberta por onde se vê o corredor e a sala ao fundo.
À direita, um desenho do Tobias, o gato que dorme neste momento na cama encostada à parede à minha esquerda.
No chão, um tapete com um dos cantos levantado pela perna da cadeira onde me sentei para escrever nem sei bem o quê!


12 de julho de 2004

9 de julho de 2004



e foi assim, com a entrega deste e de outros projectos que acabou mais um ano lectivo.

8 de julho de 2004

hoje é assim

Fecha-se um ciclo.
Descanso por um instante.
Desperto para um novo momento,
atordoado,
sem saber ainda o que fazer.
Estranha sensação,
esta do término com sabor a meio.
O vazio do fim toma conta de mim.

5 de julho de 2004

palavras emprestadas

«... Mas nos seus oito curtos meses de vida a agência só fez um trabalho, uma campanha para uma das empresas do pai do Pedro que nós três achamos genial mas o velho mandou pagar e nunca usou. Pelo menos pagamos o alugel atrasado e a minha enorme conta do telefone. Fechamos a agência, nos sentindo incompreendidos e injustiçados, no dia em que a minigeladeira na sala do saulo pifou. Concluímos que sem gelo não dava para continuar.»


in gula- o clube dos anjos, luis fernando verissimo

3 de julho de 2004

lá fora

Caminhei por entre gentes,
iam todos naquele estado,
de semblante ensimesmado.
Para onde seguiam?
Não sei,
Caminhavam rumo a lado algum,
ia cada um no seu mundo moribundo.
E eu?
Lá continuei no meio de outros rostos,
No meio de outras gentes,
Sem lhes conhecer as mentes,
Sem lhes roubar um pensamento,
Sem ouvir um argumento.
Aqui?
Vive-se outra história, outro sentimento.

1 de julho de 2004

hã?

Gostava de ser atingido por ti,
pelas tuas palavras,
Aquelas que tu não dizes,
Sim,
por essas mesmas,
As que eu não te ouço dizer.

27 de junho de 2004

tu e o palco

Cruzei-me contigo apenas por um instante.
Nesse momento vi aquilo que todos verão.
Agora,
É hora de seres partilhada,
É agora o momento,
É este o instante em que nasces,
para seres tu,
actriz,
Para brilhares em qualquer palco.

26 de junho de 2004

fui

Vôo,
Vou ali ao aeroporto,
Ali onde se parte,
Onde se chega.
Ali, local de encontros e desencontros.
Ali onde vou chega em vôo,
Alguém que vou encontrar.
Chega hoje quem me pôs aqui.

aqui e ali

Estou aqui entregue a este espaço,
Entregue ao pensamento,
Entregue a tentativas,
A toques e retoques,
Estou ali, dentro de um imaginário espaço,
Vivo, ando, durmo, como...
É lá que estou.
Dentro de um espaço que vive na minha mente,
Estou aqui,
Entregue ao deambular do pensamento.
Ali,
Sentei-me, vejo o verde daquela arvore,
Fecho os olhos,
Ouço o bater das folhas naquele vidro,
Sinto a brisa refrescante,
Ouço o chilrear do eléctrico que passa,
Adormeço...
Acordo aqui, entregue a esta sala onde o pensamento vagueia.

23 de junho de 2004

palavra solta

naquele dia disse-te adeus,
apenas isso, adeus.
meras letras articuladas pela minha boca.
a d e u s.
disse-o sem saber como o fazer e,
segui caminho,
mas deixei contigo uma parte de mim e uma palavra sem alma,
adeus,...como?
se ainda escrevo a pensar em ti.

21 de junho de 2004

contigo, viajei

Sorvi cada palavra tua.
Cada exclamação, interjeição.
Passei suavemente os dedos pelo teu corpo.
Contaste-me uma história linda, envolveste-me.
Percorri-te com o olhar, com o pensamento.
Levaste-me para dentro de ti,
Falaste-me sobre os outros,
Mostraste-me como o faziam.
Mostraste-me o mundo.
Com um ponto final, deixaste-me.
Partiste para junto dos outros.
Juntaste-te à memória do que não vivi.
Fechei-te,
Pus-te na estante.

18 de junho de 2004

tu

Olhaste-me e não me reconheceste.
Talvez vejas, ao olhar o espelho, o que em mim falta,
Tu.

17 de junho de 2004

pousar o livro

Às vezes é mesmo necessário pousar o livro, fechá-lo, arrumá-lo,
deixar que o tempo nos leve novamente a pegá-lo.
Talvez um dia o consigamos ler.
Quem sabe o que o tempo nos reserva?
Talvez um dia as palavras nos digam algo,
talvez um dia estejamos dispostos a ler esse livro, a viver essa história.
Ou talvez o tempo o encha de pó, deixando-o arrumado,
escondendo uma história que ficará por ler.

15 de junho de 2004

talvez

Estava a lanchar quando te vi do outro lado, noutra pastelaria, ali mesmo em frente.
Voltei a olhar e também tu me olhavas, olhavas e continuaste a fazê-lo até que eu timidamente desviei o olhar.
Aproximaste-te com o pretexto de levantar dinheiro e estiveste ali bem perto de mim.
Olhei pelo ombro e fui novamente caçado pelos teus olhos.
Puxei de um cigarro e fumei-o nervosamente.
Passas-te mesmo à minha frente e saíste.
Passei o resto do dia a pensar em ti, sem saber se te voltarei um dia a ver.
Quem sabe!?
Talvez um dia te volte a ver, talvez um dia te conheça...
Talvez...
Talvez tu estejas a pensar naquele instante!
Talvez...

13 de junho de 2004

11 de junho de 2004

10 de junho de 2004

escrevo para que me ouças

Escrever é...
Dizer sem ter que o fazer,
É esvaziar as palavras que nos correm na alma,
Que nos enchem o pensamento.
Escrever é dizer-te que te amo, sem ter que o fazer.
É dizer-te que sinto a tua falta, o teu afago,
O teu aconchego.
É dizer-te que penso em ti, mesmo quando não me ouves.
Escrever é dar-te um pouco de mim.

9 de junho de 2004

tentei ler

Estava a tentar ler um parágrafo de um livro e após ler e reler fechei o livro.
Fechei porque não conseguia reunir as letras, encontrar-lhes significado.
Relia as palavras e nada.
Lia e voltava atrás para ler novamente. Não adiantava. Devemos ler quando queremos, como e onde o quisermos fazer. Acima de tudo devemos estar ali, prontos para ser levados para outro lugar, prontos para viver outras vidas, para espreitar outras gentes, outras realidades.
E eu não estava ali, já tinha partido mesmo antes de começar a ler.

8 de junho de 2004

a dois tempos

quando menos queremos,
ele passa veloz como a luz, em direcção a um desconhecido e incerto futuro.
quando lá chega torna-se lento,
fazendo-nos lembrar quão curto foi tempo a teu lado.

mas que emoção!

Já todos devem saber que hoje se viu Vénus, esse planeta maluco que foi para as luzes da ribalta.
Levantei-me e fui à farmácia comprar uns óculos que não servem para nada a não ser para olhar o sol. Na segunda farmácia lá encontrei os ditos.
Diz que servem para proteger dos raios e coriscos (que eu agora não me lembro do nome dos raios).
Pedi dois, não fosse eu querer estar a olhar o fenómeno até ao fim sem ter que interromper o espectáculo para que o meu pai também pudesse assistir.
Quase deixei de ver o sol, tal era a sumptuosidade do pontinho.
Sinto que fiz um bom investimento ao comprar dois pares de óculos, já que assim posso olhar o sol sempre que quiser, e estarei munido para o encore daqui a um ou dois séculos.
Esta semana é uma semana de acontecimentos. Foi o rock in rio, vai ser o superbock, o euro que começa no sábado, e hoje foi o dia de ver Vénus.
Mas que semana em cheio!
Eu vou é tentar refazer-me desta emoção toda e fazer o meu trabalho para não me ver grego no sábado com a entrega de projecto.

7 de junho de 2004

lembras-te?

era noite, e estava frio.
lembras-te?
tínhamos o céu como limite.
senti-te em todos os movimentos,
a cada beijo uma orquestra de ondas,
mil palpitações, mil emoções,
ouvimos, sentimos, fizemos...
em cada murmúrio,
a cada beijo,
a cada onda,
ao ceder dos nossos corpos,
lembras-te?
foi o que fizemos,
Amor.

6 de junho de 2004

eternamente jovem

Chegar a Brasília é descobrir, um mundo novo, depararmo-nos com um projecto vivo de urbanismo. Somos confrontados com algo que poderia ter sido uma utopia, mas que o não é.
Conhecer a cidade passa por conhecer o seu projecto, saber como foi pensada e certamente pelo confronto com os edifícios que vão pontuando a paisagem com maior ou menor destaque, consoante o seu maior ou menor carácter público.
Nesta capital burocrática, deparamo-nos com o peso simbólico dos principais edifícios de gestão política, apoiados numa autêntica cidade invisível. Vê-la implica mergulhar no subsolo e descobrir toda uma infra-estrutura enterrada, que esconde gabinetes, salas de conferências, salas de reuniões, enfim, as pessoas que detêm o poder. E é nesta particularidade que se invertem os preceitos da maioria das capitais mundiais.
De notar que o figurativismo icónico presente no palácio dos congressos é pontuado por dois anexos que albergam um proletariado invisível nas demais cidades do mundo capitalista. Contrariamente à cidade de Nova Iorque, não se eleva o poder económico mas sim a força do povo e, concentram-se num mesmo espaço público todos os equipamentos de estado, clarificando a (utópica) organização político-social.
Nesta urbe tudo tem o seu lugar, todas as funções se concentram. Tudo se separa por sectores que assentam numa malha regular e à semelhança de Manhatan também é possível uma orientação mediante coordenadas, mas desta feita a deslocação poderá apenas ser efectuada à superfície, através do automóvel. Atrever- -me-ia a afirmar que esta cidade foi pensada apenas para o automóvel.
Os meios de transporte são precários e, o percurso pedonal foi menosprezado no plano de Lúcio Costa. Privilegiando apenas a prática de desporto ou o caminhar entre as quadras residenciais. O espaço público toma dimensões tais que inviabilizam percursos pedonais de apropriação do lugar, chegar a determinado espaço implica o uso do automóvel ou dos precários autocarros.
Dentro do plano piloto, assiste-se a uma forte dicotomia entre os sectores comerciais ou laborais e, o sector habitacional. Neste último somos atirados para o exterior, para um contacto de proximidade com o verde em oposição aos outros sectores em que somos empurrados para o interior deste ou daquele edifício.
Esta qualidade de vida, existente no sector habitacional, perde-se nas cidades satélites, em que o espaço verde é marginalizado em favor da edificação, contrariando as premissas ditadas à pouco mais de 40 anos.
O elevado custo de vida brasilense não se compadece com uma maioria populacional, subjugada à periferia. Continuam desta forma dezenas de projecções residenciais por ocupar. Dentro do plano piloto vive uma minoria dos urbanitas, incluindo-se uma percentagem considerável de uma população flutuante que habita a cidade temporariamente, chegando mesmo esta a abandoná-la no fim de semana.
Na situação hipotética de Erasmo poder viver esta realidade, dificilmente se integraria nesta malha de relações e rapidamente escolheria uma nova cidade para absorver e conhecer as gentes do mundo. Nesta urbe um indivíduo facilmente se torna num cosmopolita em busca de outras realidades fora dos limites da cidade.
Viver em Brasília implica abandoná-la, repetidamente.
É difícil estar confinado àquele universo em que a rua se fecha fora do horário laboral, sem que se viva o espaço público.
A troca de experiências torna-se difícil, dada a segregação provocada por uma estratificação rígida e inflexível. Também as pessoas se encontram sectorizadas.
Compará-la a Nova Iorque, Madrid ou Roterdão é acima de tudo apontar a sua parca idade mas também a falta de espontaneidade, que mesmo na big apple, com a sua malha igualmente regular, se verifica pelas diferenças altimétricas.
É oposta a qualquer uma das cidades citadas, pela mobilidade, ou pela falta dela.
Faltar-lhe-ia tempo para crescer de forma orgânica, gerando outros universos que enriqueceriam a sua apropriação. Tal metamorfose é tornada inviável pelo tombamento da UNESCO, em 1987, que por um lado protege uma qualidade de vida mantida no sector residencial, mas que condena a capital a uma estaticidade imprópria de uma cidade.

2 de junho de 2004

Ultima hora!!

Modem estraga-se e perdem-se as comunicações com o resto do mundo.
Bruno metido no seu mundo questiona-se:
Por onde terá andado o Olavo?
Que terá miado a outra?
Por onde andará o homem estupendo? (esse não foi a lado algum até porque partilha o mesmo modem que eu)
Que palavras vazias terão sido escritas a cheio?
Continuará a outra a pensar sem querer?
E o outro? Continuará a encher a barriga de informação?
Hum!
Vou começar pela sobremesa, leite creme.

28 de maio de 2004

volto a tentar

Esgoto-me em tentativas.
Tento escrever, tento dizer,
Tento mas não consigo.
Por fim, um conjunto de palavras soltas,
Desconexas, vazias de sentido.
Palavras soltas, sem direcção.

22 de maio de 2004

cidade abandonada!

O conceito de cidade engloba todo um conjunto de infra-estruturas e de equipamentos que devidamente ocupados e vividos, permitem identificar determinado conjunto urbano como tal. Entre as escolas, os hospitais, as empresas,..., e o lar existe um percurso efectuado diariamente por milhares de cidadãos. Estas distâncias vão sendo cada vez maiores, coadunando-se a um conceito alargado de Urbe, em que esta, diria de forma epicêntrica, se vai estendendo, englobando outros aglomerados populacionais outrora isolados.
A melhoria das infra-estruturas de acesso proporciona hoje uma melhor mobilidade, viabilizando a opção de viver na cidade, fora dela. Esta escolha é acrescida pela redução dos preços do imóvel, equitativa ao afastamento do núcleo.
A grande metrópole é entendida pelo seu centro, onde se encontram as principais entidades laborais, por uma periferia albergadora e pelo interface que os une. Mas onde está o centro? Os limites da cidade são agora invisíveis, já não se trata de atravessar uma muralhara, mas sim de vencer os quilómetros até atingir o grande núcleo urbano onde são desenvolvidas as actividades de cada um. O percurso pode hoje ser efectuado de diversas formas e, a cada uma será atribuída uma diferente percepção. As portas da cidade passaram a ser, os terminais de comboio e autocarro, as portagens das auto-estradas e das pontes, enfim todo um conjunto de infra-estruturas que nos antecipam a entrada na cidade.
A inconstância populacional entre o lar e os demais habitates é cadenciada pelos horários próprios de uma sociedade, provocando um fenómeno de ocupação territorial, também ele alternado. Ora está a cidade cheia de vitalidade, ora desertificada.
Ainda que no espaço público existam percursos pedonais, estes têm agora horários próprios. O lugar é apropriado, maioritariamente, como transitório e como ponto de partida ou chegada.
A praça vai perdendo o seu carácter de ponto encontro e de permanência de pessoas, passando a ser meramente distribuidora, possibilitado pela existência de ruas que a une aos diferentes destinos pretendidos.
De regresso à periferia, verificamos que o próprio interface vai gerando urbanidade, não só é o centro desse aglomerado, como uma das principais portas de acesso a essa realidade populacional, maioritariamente desocupada no período laboral.
Em qualquer dos casos, o contacto com o exterior é cada vez mais filtrado pelos vãos, pelos interstícios deixados nas superfícies e nos volumes que nos protegem e albergam. As ruas e os espaços públicos surgem agora como lugares de transição.
Até onde se poderá estender a cidade, sem habitar o interior desta muralha que se foi alargando?

20 de maio de 2004

há comentários assim!

«Há dias em que não se deve
outros que não se tem
outros aos quais não fica bem
Há dias em que o ponto os tornaria em noites
inexistentes
descrentes
Mais vale que apenas sejam assim
dias
sem
ponto»

daniela, leite creme

nada é, tudo foi

Houve um dia em que te conheci.
Houve um tempo em que tudo foi perfeito.
Houve um dia em que os nossos caminhos se desencontraram.
O tempo agora é de lembranças do que houve.

16 de maio de 2004

atrás de mim, eu.

O espelho às vezes não me reflecte.
Apenas me devolve uma máscara.
Por trás dela, eu.
No meu pensamento, tu.
Na tua ausência, a minha saudade.
Na falta de nós, eu.

10 de maio de 2004

há dias de cão!

hoje foi um desses dias, o tobias foi operado mas portou-se bem e estamos à espera que ele recupere...
logo, logo ele voltará às suas tropelias, aos seus dias de gato.


6 de maio de 2004

há dias assim

Há dias em que a vontade de escrever é maior que o dizer.
Olho o texto, cresce só e alheado de uma mente perdida.
Há dias assim, sem história para contar,
Em que apenas escrevo,
Sem ter que dizer.
Escrevo, escrevo, escrevo.
Apenas escrevo.
Assisto ao despontar de inócuas palavras que dão forma a um texto que nada conta.
Não consigo parar,
Escrevo sem falar, sem contar.
Há dias assim em que não consigo pôr ponto

4 de maio de 2004

triiiiiiiiiiiiiiiiinnnn!!

Estou!? – disse eu.
Respondeu uma voz perdida no tempo, mas nunca esquecida.
Fiquei surpreso.
Silêncio.
A conversa não se alongou, foi preenchida com silêncios e com incertezas do que dizer.
As coisas mudam com o tempo, mas aquele momento de parcas palavras, qual máquina temporal, fez-me recuar, reviver, voltar a um dia em que tudo estava bem.
E naquele breve instante, esteve.
Foi bom ouvir de novo aquela voz.

-_-_-_-_-_- .

Vejo-te ir ao longe,
És apenas uma silhueta,
Oscilas-me, nos olhos, o horizonte.
Com uma lágrima, antecipo a tua ausência.
És um ponto
.
Foste-te

aquele céu



Vi sempre o céu em tons de laranja.
Não lhe encontrava outra cor.
Um dia pareceu-me ver outra à mistura.
Era inexplicável,
Mas era o mais bonito que eu havia visto.

Esse dia vai longe,
E o céu continua laranja.
Laranja, laranja, laranja,
Talvez um dia me canse de olhá-lo,
Mas lembrar-me-ei sempre daquele dia,
Em que o céu também era rosa.

1 de maio de 2004

o puto



Saí, fui dar uma volta.
Estava farto de aqui estar e fui.
Andei por aí um pouco à deriva.
Talvez tenha passado por ti.
Envolvido no meu mundo, não vi nada nem ninguém.
Cansado de caminhar sem rumo, sentei-me e por lá fiquei,
A olhar a imensidão do vazio.

30 de abril de 2004

o meu é o maior!

Lembro-me perfeitamente do dia em que terminei a segunda classe.
Saí feliz do exame e, ao passar os portões da escola Maria de Jesus senti que tinha ultrapassado uma etapa importante na vida. Tinha acabado de abrir as portas às férias.
O dia, como habitual na ilha, estava vibrante, solarengo.
Percorri o caminho para casa e passei pelo centro para dar as boas novas. Beijos e mimos depois, deixei lá a mãe entregue ao trabalho e voltei para casa.
Tudo era grande nesse dia e eu era o maior.
Era um feito, tinha passado à terceira classe.
Percorri o caminho até casa, passei em frente ao palácio, ao cinema e fui por dentro do parque. Fui sair mesmo ali, na nossa rua.
Cheguei a casa e encontrei-te.
Já não tenho 7 anos e tu fazes 56.
Os anos passam, mas eu lembro-me sempre desse dia em que te encontrei na cozinha. Perguntaste-me – então correu bem o exame? Passaste? – não foi preciso dizer nada. Fizeste-me uma festa e deste-me o parabéns.
Senti-me a pessoa mais feliz do mundo.
Hoje que fazes mais um ano quero dizer-te:
Parabéns pai, tu és o maior!

27 de abril de 2004

8h30 da manhã na cidade

«Há um sentido de silêncio interior
Que percorre ao de leve
Os corpos direitos

E de dentro, presumo
Existe o turbilhão das ideias
Onde se enquadram os sentidos vermelhos
Que se vêem
No dobrar de cada esquina
Por mais avenidas que existam

Nesta cidade há horas para tudo
Menos para respeitar
A força que há dentro de cada um

E há sempre atrasos
Mesmo na trivialidade das acções

Por isso, tudo corre
Não sei bem para quê.

Tudo olha com ar de infinito
Cheio de pequenas coisas fúteis

Se soubéssemos, como disse a poeta,
Que cada pessoa traz em si uma vida…»

Filipe Monteiro

25 de abril de 2004

e continua a passar!

enfim! depois de mais uns riscos, resolvi aparecer por aqui.
Não sei bem se para dizer alguma coisa.
Neste momento qualquer pretexto é válido para fazer uma pausa.
Pois é ando de volta de umas habitações em duplex!
Por mais que dê voltas, está difícil entrar!
Neste espaço imaginário, os também ficcionados utentes estão perante um problema.
Subir e descer de um piso para o outro.
Andam à procura de uma escada, mas não sabem onde é que o arquitonto as deixou.
É melhor despachar-me, antes que descubram que não podem passar da sala para os quartos.
Eh pá?! já está um a chamar os bombeiros...
Diz que está preso na varanda e que quer sair de casa.
Sacana, nem a vista o prendeu lá!
Vou mas é alterar umas coisas antes que desertem todos.
Perdi-me aqui em duas ou três linhas e os tipos do tí-nó-ní, já estão a subir a escadinha.
Vão-se lá embora que vou desencantar um sobe e desce.

23 de abril de 2004

o tempo passa!!

Desenho, risco, volto a riscar.
Não!
Não é este o caminho.
Volto a desenhar.
Mais um risco aqui,
Outro ali.
Hum!!?!
Ainda não está.
Scretschhhh!
Menos uma folha.
Volto atrás.
Ao início não!
Que eu tenho medo da folha em branco.
Hum!!
Ainda falta tanto...
E o tempo a passar.
Lá vou eu novamente riscar.

22 de abril de 2004

não sei...

se conseguem ver a imagem do post anterior.
esclareçam-me pfvr.
entretanto fiquem ai com o bill cosby que só vos faz bem ao astral.
quem não tiver som, vá lá tratar disso rápido que isto não vai ficar aqui por muito tempo.

19 de abril de 2004

ninho de cucos!

Falta uma semana para a entrega de projecto.
Prevejo uma semana de loucos.
Se começarem a ler frases tolas.
Não se preocupem, não estarei a ficar louco.
Embora já note umas semelhanças entre a minha expressão e a do jack nicolson.
Vamos lá ver se também ganho um oscar!

16 de abril de 2004

isto anda em obras

mudei umas coisas,
mas agora não se consegue ler os links aki ao lado.
enfim!
roma e pavia não se fizeram num dia.

15 de abril de 2004

até um dia!

Regresso agora do aeroporto.
Fui levar um amigo que se foi.
Disse-me hoje que ia para Buenos Aires.
E foi.
Vai agora a caminho de Madrid onde faz escala.
Vai e, leva um pouco de mim.
Os meus almoços e jantares vão agora ficar mais pobres.
Boa viagem meu amigo.
Até um dia.

13 de abril de 2004

sinopse

«este livro. passa um dedo pela página, sente o papel como se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto.

este livro tem palavras. esquece as palavras por momentos. o que temos para dizer não pode ser dito.

sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre a tua. damos as mãos quando seguras este livro.

não me perguntes quem sou. não me perguntes nada. eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.

pousa os lábios sobre a página. pousa os lábios sobre o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.»


josé luís peixoto, A Casa, a Escuridão.

12 de abril de 2004

apenas eu

Andei por ai, hoje, ontem, nem sei bem quando e, talvez nem importe quando foi.
O importante é que andei. Por onde? Também não sei.
Enfim andei...
Andei e cheguei aqui, a esta folha, a estas letras, palavras, frases. Cheguei a um lugar onde o pensamento cambaleia sem rumo. Li nesta caminhada um livro, ou apenas um texto, não sei, em que o autor me disse que o que ele escrevia, não era o que eu lia.
Não sei bem o que estou aqui a escrever, mas a ti que lês isto, pergunto-te, que lês tu?
Entendes alguma coisa? Talvez um dia mais tarde, quando eu próprio for o leitor destas palavras aqui reunidas, entenda o que escrevi, naquele dia em que não sabia bem por onde andava.
Estou só. Apenas eu e as minhas palavras.
Mais um cigarro. Portanto, eu, as minhas palavras, e o cigarro, ah! E as bolinhas de fumo, uma atrás da outra.
O
Acabei de fumar,
Juntamente com o cigarro foram-se as bolinhas.
Não sei mais que escrever.
Fiquei completamente só.
Apenas eu.
Foram-se as palavras.

há vida para além da morte

Mais do que uma perda de consciência democrática, o déficit, verificado na gestão territorial, revela uma perda de consciência a todos os níveis. Esta inconsciência profissional indica uma total displicência para com a sociedade e, uma lacuna grave na responsabilização.
Democraticamente, a nossa liberdade estende-se até que isso implique alterações na autonomia dos restantes indivíduos.
Com a função de gerir o espaço urbano, o urbanista é incumbido de exercer a sua função, aplicando da melhor forma os seus conhecimentos em prol de uma melhoria nas condições do lugar, tendo sempre em mente que esse território se insere numa realidade que está além dos limites da folha que delimita o seu território de intervenção.
Projectar cidade é saber ver além, no espaço e no tempo. É ter consciência da metamorfose físico-cultural que se desenvolve indefinidamente.
Nós morremos mas a cidade tem uma vida que perdura.

cidade abandonada

andei, por ruas
passei, por praças
corri aqui,
fugi dali,
acolá parei.
Senti, cheirei, ouvi, deixei de ouvir, cheirei novamente.

Cruzei-me com gentes, apoiei-me nelas,
Observei-as, fui observado...

fechei os olhos por breves instantes,
ouvi,
Deixei de ouvir,
ouvi-me,
abri os olhos...
onde estou??
Algures na cidade,
Não me ouço,
Tudo acontece em meu redor,
Tudo corre.

Que fará aquela pessoa parada?
Porque não corre?
Porque não anda?
Que estará ela a ver?

O mesmo que eu, quem sabe!?
Cidade, minha,
Tua
Deles,
Nossa,
Daquela pessoa.

Para onde irão todos?
Que caminhos seguem?
Estarão cá amanhã?
Voltarei eu a ver-te...
agora que te abandono?

Fecho a porta do meu carro.
Sigo pelas tuas ruas,
Mas não te oiço,
Não te vejo,
Vejo apenas os outros,
Metidos nos seus mundos,
Que estarão eles a ouvir?
Eu oiço-os, fazem barulho,
Não me deixam ouvir-te,
Estás algures,
Silenciada pela tua própria vida,
Pára!!!
Deixa-me ver-te, ouvir-te, sentir.
Deixa-os partir antes de mim.

Não!!
Estarias morta...
Estarias abandonada,
Não serias tu,
Serias outra cidade qualquer
Que não a minha.

10 de abril de 2004

::à inês::
Admirei-te!
Fiquei inebriado com os teus movimentos.
Dancei a teu lado.
A música que ouvias,
Também me percorreu o corpo.
Ainda não te foste ,
Mas a saudade de ti
Já ocupa o teu lugar.
Diverte-te amiga.
Quando voltares,
Dançaremos juntos novamente.

8 de abril de 2004

o barco

Percorro mais uma vez este caminho que a casa me leva.
Para trás daquele arco ficas tu.
Aqui onde estou preparo-me, vou saltar a cerca, vou sair, vou deixar-te, abandonar-te, vou ter com a outra.
Olhar-te-ei o caminho todo,
Ver-te-ei cada vez mais,
Cada vez mais distante,
Até que transformes numa linha que suavemente oscila.
Não te preocupes,
Ver-te-ei ainda passares de linha a volume, a mulher, a cidade.
E quando amanhã estiver de volta, abraçar-te-ei, que dali para onde vou consigo apenas ver-te.

Por mais que procure refúgio nas palavras, não o encontro.
Procuro, procuro, procuro e...
Nada.
Vasculho por entre as frases.
Volto a olhar para as palavras.
Esmiúço por entre as letras e...
Não encontro.
Mas que procurarei eu?
Desisto.
Vou fazer outra coisa.

7 de abril de 2004

::ron ron::
Acabei de falar agora contigo, noutra janelinha que não esta.
Dizias-me que ninguém te consegue definir. Pois é, há pessoas assim mesmo.
Tu és alguém que não deixa de estar, mesmo quando o silêncio se instala.
Obrigado amiga. Por o seres.

6 de abril de 2004

Silêncio.
Ao escrevê-lo, deixou de existir. Segundo o João Gaiolas, mais conhecido no mundo por John Cage, é algo que não existe. Ou existirá?
De que outra forma poderia eu quebrá-lo se este não existisse?
Pausa.
Fumei um cigarro.
Há silêncios, pausas. Na vida também se descansa.
De regresso, trazemos um pouco mais de nós.
A este sol que agora nos acalenta o espírito, apenas um, seja bem vindo.
O teu silêncio chegará num dos mil dilúvios deste mês.
Pausa...

2 de abril de 2004

onde se esconde o amor, quando tu não estás aqui?

repeat

Apetecia-me ver-te novamente, estar contigo, abraçar-te, beijar-te.
Apetecia-me fazer contigo amor, cheirar-te, ...hum! novamente beijar-te.
Apetecia-me despertar e, continuar a sonhar.

o dia da verdade!

Ia eu a caminho do restaurante, cometer um assassínio, mais conhecido por, matar a fome, quando, em conversa com o meu companheiro de crime, me apercebi que era hoje o dia das mentiras.
Chegados ao local do crime, aproximou-se um dos envolvidos no acto, o que nos tráz a arma, mais conhecido por empregado de mesa, que nos alerta para a mudança do nosso hino nacional. Sim, sim, foi a resposta que obteve. Após insistência, alertando-nos para o facto de ter visto a notícia na TV, lá desistiu lembrando-se então do propósito da nossa breve estada, o crime.
No entanto, durante o acto criminoso que ali estávamos a cometer, fomos novamente interrompidos com um, « é sério, ví nas notícias que o Paulo Portas, blá, blá, blá...», mais preocupados com o propósito que nos reunia à mesa, lá continuámos a cortar e a trinchar.
Terminado o crime, fiquei com a sensação de que aquela mentira fora dita na realidade como uma verdade, ou pelo menos que o nosso cúmplice de crime teria mesmo acreditado na dita notícia. Não pude confirmar se a notícia fora mesmo emitida ou se era apenas algo dito por forma a enfatizar o acto.
Verdade seja dita, este dia em que se mente não difere muito dos outros. Alterando a frase que nos diz que «o natal é todos os dias», podíamos também dizer que o dia da mentira não é um, mas sim todos os dias.
Diria mesmo que esta última frase é mais adequada a uma verdade quotidiana que aquela outra em que o natal se festeja todos os dias.
De facto, o natal não acontece num só dia, começa em Novembro ou Outubro, com a azáfama das compras estendendo-se até ao fecho das lojas no dia 24 de Dezembro.
Relativamente à mentira, esta acontece todos os dias, a qualquer hora ou momento.
O facto de se mentir na TV, ou num jornal, não é para nós novidade. Novidade seria haver um dia da verdade.
Deixo aqui o repto aos meus leitores de forma a que se institua este dia.
Peço ainda, aos digníssimos leitores, desculpa pelo facto de publicar esta crónica já no dia 2 e não no dia 1. Mas afinal o dia das mentiras é também hoje e, será amanhã novamente, repetindo-se até esse dia inédito que estará ainda por acontecer.

1 de abril de 2004

joaquim descritor

Gostaria de escrever algo, mas nem sei bem o quê, nem tão pouco por onde começar.
Enfim, talvez nem me preocupe com o início pois ele aconteceu umas palavras atrás.
Sem saber bem onde irei ter com este aparente discurso, continuo aqui persistentemente a debitar palavras que se vão agrupando sem acrescentar nada de novo, construindo frases sem pretensão alguma de construir um raciocínio com princípio meio e fim. Tal como num projecto de arquitectura, também o medo da folha em branco, não deve superar o acto criativo. Devemos começar, às vezes intuitivamente, as ideias surgem e, aquilo que parecia um gesto irreflectido, pode mostrar-se mais tarde num verdadeiro rasgo criativo.
Enfim, num desenho talvez seja mais fácil desenvolver uma ideia ou ir riscando até que o conjunto de formas ou manchas, nos apontem um caminho.
As palavras teimam em surgir, devo entender isto como uma interrupção no raciocínio ilógico que estava a desconstruir. Devo ter-me enganado na palavrinha, já que para descontruir é necessário saber construir, já dizia o meu professor de história de artes, sobre o desconstrutivismo russo. E eu efectivamente não sou lá muito dado à sapiência da escrita. Por isso chamemos-lhe outra qualquer coisa que não esta. Considerem-me um assassino da escrita. Qual Joaquim estripador, farei disto um modo operativo. Obedecerão então estes homicídios, a um qualquer padrão que não poderá ser aqui revelado. Fiquem atentos às minhas próximas crónicas, e encontrarão certamente um vontade ainda que reprimida de violentar este acto, que é escrever.
Escrever ou descrever, melhor dizendo. Segundo um amigo acrescento o prefixo des e obtenho o contrário ou será o contrario?! E o contrário de contrário será descontrário?
E descontrariar é ir ao encontro de?
Isto está a levar um caminho que eu certamente não compreendo, nem tão pouco me darei ao trabalho de tentar retirar daqui algum entendimento. Enfim devaneios. Não sei como acabar isto, por isso pergunto. Como é que conseguiste ler esta ***** até aqui?