29 de outubro de 2004

petit voyage



lá estava eu numa terra onde nunca houvera posto os pés, ao abrigo de uma língua esquecida algures no liceu ou talvez nunca aprendida. Lá consegui apanhar o autocarro e olhei atento, o caminho todo, as pessoas, os edifícios e as ruas cheias de vida.Com um pequeno vislumbre da cidade, desci ao subsolo e fui levado pelo metro ao encontro do amigo que me esperava na silmo, uma importante feira de óptica. Aí começou uma pequena incursão ao mundo das armações, das lentes e dos expositores que as mostravam. O primeiro impacto foi o de achar que era a única alminha que não trazia consigo uns óculos, último modelo, com uma cor extravagante. Nada, entre mim e a pessoa que olhava, apenas os meus olhos. Senti-me nú e um ser de outro planeta. Lá encontrei um ou outro adepto da nudez, mas todos juntos não podíamos formar uma banda, por certo faltar-nos-ia o baterista ou o percussionista, quem sabe, o vocalista. Caíram por terra todas as minhas ambições de criar uma banda que ficaria conhecida por opticalnaked e aspirar a um lugar no top +. O pavilhão por onde iniciei a visita à exposição era o pavilhão trend, ou seja, o mais inovador, ou mais criativo, ou mais esquisito, como queiram.Nos dois dias que se seguiram alternou-se um pavilhão e outro sempre numa acelerada, no entanto, selecta escolha da nova colecção. Nada que uns olhos já de si treinados e um rigoroso sentido estético não ajudem a levar a bom cabo. E para que não comecem com comentários ou pensamentos sobre o meu egocentrismo, referia-me ao meu amigo. Nessa tarefa fui apenas um observador, tecendo aqui e ali um ou outro comentário, tentando ajudar numa ou noutra escolha, para mim mais fáceis e mais óbvias, tentando sempre perceber porque era este ou aquele modelo escolhido e aquele outro posto de lado.
Ia também tirando umas sorrateiras fotos aos modelos escolhidos, a pretexto das quais fui chamado à atenção inúmeras vezes. Fazia sempre um ar parvo e atónito em sinal de uma ignorância pelas normas da casa.


Fora deste mundo à parte de paris, deu ainda para ir vendo a cidade.Os lugares comuns e outros menos calcados pelos pés dos turistas, nos quais eu me incluo orgulhosamente.Fiquei com a sensação de ter despoletado algumas animosidades pelo macarrónico francês com que abordava as pessoas. Também eu ficaria chateado por ouvir alguém assassinar a minha língua, com tanto empenho como o faço. Enfim, estão desculpados por algum episódio menos simpático. Mea culpa. Paris é todo o conjunto de pessoas com que tive a oportunidade de falar, conhecendo-lhes as mais variadas origens.
Paris é a frustração sentida ao apagar as fotografias de um dia por mero descuido,
É também o cansaço sentido ao subir as escadas, do metro e do escadório, que nos levam à igreja do sagrado coração (não vale a pena tentar escrever em francês, não sei mesmo).
Paris é ainda aquele espectáculo de órgão na catedral de nossa senhora, é a chuva miudinha que caiu ali pertinho do sena e o medo que esta passasse a miúda ou a sra.
paris é aquela loja, onde fui mal atendido, é o senhor que atenciosamente explicou o caminho, é o curioso alemão que personificou um turista excursionista,
é a velhinha que faz caricaturas de quem janta em troca de 5 euros,
é o sr. do escadório que me explicou o porquê da mudança de cor na torre que se iria verificar naquela noite,
é o constante saltar das cancelas do metro, paris é ainda o conjunto de japoneses que por mim passaram no louvre, cheios de pressa, para poderem tirar uma fotografia à mona lisa.
Paris é a linda miúda que me pediu um cigarro com um sorriso esboçado.
É a mulher bonita que eu vi repetidamente, sentada no metro, na esplanada de saint dennis , no meio da multidão, à porta da vogue.
Paris é tudo isso, tudo o mais que eu vi, e tudo o que ficou por ver...
paris será um dia paris.

28 de outubro de 2004

perdidos no tempo

Ao longe, uma voz contínua que me empurra o pensamento para bem longe daqui. Montado na caneta, escrevo palavras que me levam no seu vagaroso cambaleio pelo atribulado mundo de uma vã tentativa de dizer algo, de esquecer este momento que me prende no tempo ao sabor de um irritante monólogo.
Que capacidade terá este ser para conseguir parar o tempo?
Fiz um desenho, aqui mesmo ao lado, nesta folha onde prevalecem mensagens escritas com a colega do lado, e uns quantos jogos do galo.
Voltei a este grito dissimulado em fuga às tediosas palavras que me recuso a ouvir. Pergunto à colega da frente se sabe de que fala ele agora. Não sei, perdi-me à bocado – responde.
Alguém peça, por favor ao senhor, que dê corda ao relógio, e deixe o tempo seguir o seu rumo.

11 de outubro de 2004

Um maravilhoso casulo, onde dois amigos se transformam, onde acaba um sonho e começa a realidade. Dois homens, numa viagem à essência do ser, que nos abandonam com um profundo desejo de fazer as malas à conquista de uma terra sem fronteiras, em busca do “eu”.