17 de outubro de 2009

janelas


sigo por entre as serras, por caminhos da memória. por entre os rios e as vindimas. por entre as curvas da serra ouvem-se rumores do frio de um outono que pede desculpa por chegar atrasado. Onde estará o meu verão privado? esse calor que me faz suar nas noites do cerrado? por onde andará o meu colibri? meu beija-flor... bebendo água nas fontes de brasília? se escondendo da chuva? buscando mel nas flores?

de olhos na estrada, sigo a rota de uma voz robotizada que me faz perder o rumo por entre aldeias abandonadas e caminhos por onde nem as cabras passam mais.serras. verdes prados. castanhos, pasteis, laranjas. verdes e mais verdes, folhas caídas. velhos perdidos em estradas sem destino.olham o tempo como quem olha um passado que não chegou para dizer tudo. seia. cidade? distrito? freguesia? museu do pão. entramos? não há tempo... curvas, frio que se aninha sorrateiramente nas entranhas dos trapos de verão, imensidão, vales, aldeias. lagos, laguinhos, rios e riachos, ovelhas. perto. cada vez mais perto. pertinho. do alto! olha o passado aqui tão perto. olha, estranha proximidade de um tempo ali tão perto, longínquo. paragem num passado que se viveu, feliz. saudade de quem não está mais. saudades de um templo destruído. janelas que mostram uma alma frenestrada por um tempo mais apressado. caminhos percorridos, uma e outra vez. caminhos apagados. destruídos. figuras que olham esse cenário com admiração. sem preconceito do cenário de outros tempos.portas caídas. ventos sorrateiros. templo de uma memória avassaladora. saudade.objectos esquecidos pelos ventos, pelo pó. folhas de plátanos que espreitam o teatro sem actores. árvores que dançam tristes sem plateia.
espectáculo. beleza. vazio. salas cheias de tudo menos nada. ouço os passos de um casal que segue ao longe, num tempo que não mais é. páro e vejo, ali, em frente, em cima, por baixo, de todos os lados, no meio da destruição, estranha sensação de beleza. Quanta tristeza. quanta beleza. tanto sentimento. quanto para sentir, para gritar.


Pára. para chorar, rir e apenas sentar em frente à sombra do que foi. o presente é uma sombra forte, marcada, definida, de um passado que me construíu com sorrisos e janelas abertas sobre os ares da serra. como seria bom mostrar isto ao meu pequeno verão privado.
como seria bom ficar ali, parado, horas, dias, fazendo as árvores sorrir... mostrar e contar as histórias partilhar essa tristeza e sorrir no meio dos ventos que varrem a tristeza dali pra longe. ahh.arre...ares da serra. sanatório. que estranha força tens tu na razão da emoção! rasgas-me por dentro o sofrimento e fazes-me sorrir por caminhos que se abrem, com a tristeza de um passado feliz, que não mais é. com o sorriso recuperado por ali ter existido uma história, felicidade sorrateira que chega com o vento e me leva por entre as portas e janelas, até junto de ti. Aí, do outro lado dessas letras...