26 de maio de 2005



és apenas um instante no meu pensamento,
és o lápis que te prende o corpo,
és o pincel que te solta a alma
e a àgua que te dá movimento,
és mero desenho num papel.

24 de maio de 2005



"...tudo sempre acaba bem! E quando não está bem é porque ainda não acabou!"

para quem gosta de soltar umas boas gargalhadas é um filme a não perder.
despretensioso, com um argumento simples em que se aborda um pouco da essência desse imenso brasil, um pouco deste pequeno mundo!

13 de maio de 2005

o código da estação

Algures no renascimento, alguém pinta uma parede.
Uns séculos depois, alguém escreve um livro onde tenta desvendar o código do primeiro. O livro é um sucesso de bilheteiras, sim porque ao ritmo que foi lido mais parecia um filme, ao género harry poter, dá em filme, dá em livro, vende t-shirts, porta-chaves. Enfim, toda a gente, se não comprou, já pediu emprestado ao amigo, à amiga, ao cunhado, à vizinha, já tirou fotocópias, já foi à fnac e ficou lá dois dias sentado a ler o código, um qualquer, importante é que o titulo contenha código.
Como já devem ter reparado, nem sei porque escrevo devem, não acredito que esta coisa ainda tenha mais de um leitor, não mencionei o nome do tal pintor, homem de vários ofícios, e de uma mente incansável, até porque o nome do senhor é irrelevante, e vós que leis isto sabeis o seu nome.
Na verdade, para quem queira equiparar-se ao nível de vendas, o importante é intitular o que quer que seja com a palavra código, ou códice, código duas vezes, quantas mais vezes melhor. Melhor do que isso, só imagino alguém que escreva o código do alquimista, ou os segredos de zahir, não fosse o Paulo Coelho outra lebre no sprint comercial.
Boa ideia para quem disso trate, é escrever código do código da estrada, ou códice de estrada. Deixassem o da estrada em letras de ler à lupa, enfatizassem apenas o código e estariam todos informadíssimos sobre os segredos de uma boa condução.
Fechando o parêntesis, algures por estes dias, ontem para ser mais preciso, decidi que ir dar uma olhadela à última ceia seria uma boa forma de escapar ao consumismo da duomo e das demais zonas, ruas, ruelas, praças, pracetas, onde il negocio se instalou para ficar.
Deixei o subterrâneo, em Cadorna, uma estação ali central, bem pertinho de tudo, e fui à procura da tal parede pintada no refeitório de um convento que dá pelo nome de Santa Maria delle Gracie. Por fim cheguei ao convento, que hoje tem um posto de informações, onde se vendem bilhetes e onde nos avisam que não é possível visitar o convento sem marcação prévia, por telefone, com dois dias de antecedência.
Dois dias, 48 horas, sem fazer contas, porque sou um ser iluminado mesmo sem ter lido o código do senhor, percebi que as 5 horas que me restavam não seriam suficientes para telefonar, marcar, fazer tempo e voltar.
Merda, foi o que pensei, sacana do idiota que resolveu desvendar o segredo. Segredo, palavra que transmite uma ideia de um assunto que se quer desconhecido, mas, e terá sido o caso, várias vezes destruído pela curiosidade humana nem sempre com a verdade factual.
Não li o livro, devo ser um dos poucos seres estranhos que ainda não o fez, e saí dali com raiva dos personagens que ali se aglomeravam apenas para verificar, com a sua visão raio x, a presença de uma mulher no lugar de um dos apóstolos.
Saí eu às pressas do Politécnico, abandonando uma agradável conversa com os alunos de arquitectura, para me dizerem que a Ceia só é possível com marcação prévia, e um jejum de dois dias.
Resignado, lá continuei a minha volta pela cidade, e acabei sentado num ristorante onde pedi uma pasta bolonhesa, pedi pão e burro, a Romena que me atendeu disse que não tinham manteiga e perguntou-me se queria azeite. Insisti, mas a demanda não deu frutos e o pão foi comido solteiro.
3h30, era o tempo que me restava para explorar um pouco mais da cidade, passei na Piazza del Duomo, e aproveitei para entrar na catedral que tinha uma das portas abertas e lá me sentei por um tempinho tentando esquecer os flashes e o barulho dos clics.
Sentei-me num dos bancos corridos de madeira e percebi que era pequeno, que estava fora de escala ficando ali a imaginar como seria aquele espaço há uns séculos atrás, ainda sem os projectores que não deixam claro o espectáculo dos vitrais. Tudo para que as fotos fiquem bem iluminadas e se prove ali, com uma ou duas pressões no botão, a presença no templo.
Passei novamente pelos senhores, que verificam o que se leva, não vá entrar ali algum terrorista bombista que faça ruir as colunas e os arcos góticos, obrigando a uma maior obra de renovação e saí.
Lá fora, numa escadaria de parcos degraus, pessoas e mais pessoas que aproveitavam o sol para abandonar a triste cor do inverno que foram ficando para trás enquanto contornava o tapume onde se ostenta uma publicidade a um desses templos da moda.
Acredito que a catedral não precisa de obra alguma mas é uma forma de poderem usar parte da fachada, ainda que lateral, para publicitarem, rentabilizando a presença de quem ali aflui.
Já tinha ido ao quarteirão do Armani, um dos verdadeiros templos de Milão, já tinha entrado em muitos outros onde só se entra para ver, onde os preços não estão tabelados e o lema será: se tens que perguntar o valor não és crente deste templo. Resolvi então seguir caminho e andar por ruelas, onde me despedi dos fabulosos gelados, nocciola e nocciola, que fazer quando se gosta mesmo muito de um sabor, pede-se dois um pouco ao estilo do código do código.
As ruas, cheias de consumidores, desvendaram-me aqui e ali o interior dos quarteirões onde as árvores brotam em cuidados jardins, devidamente guarnecidos de portões em ferro que nos fazem sentir presos na rua e uma câmara de vigia lembrando-nos que talvez não seja boa ideia forçar a entrada ou saltar o gradeamento.
Voltei ao hotel onde tinha deixado a bagagem, e segui para Malpensa, sem imaginar que a minha paciência seria posta à prova em várias horas de espera num aeroporto igual a tantos outros, sem sala de fumo e onde a restauração fecha às 21h e qualquer coisa.
Nos pés ficaram uns bons quilómetros feitos na feira óptica, Mido, palmilhada nos primeiros 4 dias, e outros tantos em busca dos templos.
Nos olhos ficaram milhares de óculos, vistos, revistos com este ou aquele cunho, nas mãos, ao espelho, nas caras de quem passa na rua ostentando já o último grito condizente com o manancial de grifes que vestem.
Milão, foi Milão em 7 dias, Milão desta estação.
Logo logo, desaparecerá a cidade que conheci para ser substituída por uma outra que está a ser desenhada, pensada criada, manufactura na china por parcas quantias e que ostentará 3, 4, 5 dígitos de uma etiqueta onde não constará o preço. A mesma cara com nova maquilhagem.