30 de abril de 2004

o meu é o maior!

Lembro-me perfeitamente do dia em que terminei a segunda classe.
Saí feliz do exame e, ao passar os portões da escola Maria de Jesus senti que tinha ultrapassado uma etapa importante na vida. Tinha acabado de abrir as portas às férias.
O dia, como habitual na ilha, estava vibrante, solarengo.
Percorri o caminho para casa e passei pelo centro para dar as boas novas. Beijos e mimos depois, deixei lá a mãe entregue ao trabalho e voltei para casa.
Tudo era grande nesse dia e eu era o maior.
Era um feito, tinha passado à terceira classe.
Percorri o caminho até casa, passei em frente ao palácio, ao cinema e fui por dentro do parque. Fui sair mesmo ali, na nossa rua.
Cheguei a casa e encontrei-te.
Já não tenho 7 anos e tu fazes 56.
Os anos passam, mas eu lembro-me sempre desse dia em que te encontrei na cozinha. Perguntaste-me – então correu bem o exame? Passaste? – não foi preciso dizer nada. Fizeste-me uma festa e deste-me o parabéns.
Senti-me a pessoa mais feliz do mundo.
Hoje que fazes mais um ano quero dizer-te:
Parabéns pai, tu és o maior!

27 de abril de 2004

8h30 da manhã na cidade

«Há um sentido de silêncio interior
Que percorre ao de leve
Os corpos direitos

E de dentro, presumo
Existe o turbilhão das ideias
Onde se enquadram os sentidos vermelhos
Que se vêem
No dobrar de cada esquina
Por mais avenidas que existam

Nesta cidade há horas para tudo
Menos para respeitar
A força que há dentro de cada um

E há sempre atrasos
Mesmo na trivialidade das acções

Por isso, tudo corre
Não sei bem para quê.

Tudo olha com ar de infinito
Cheio de pequenas coisas fúteis

Se soubéssemos, como disse a poeta,
Que cada pessoa traz em si uma vida…»

Filipe Monteiro

25 de abril de 2004

e continua a passar!

enfim! depois de mais uns riscos, resolvi aparecer por aqui.
Não sei bem se para dizer alguma coisa.
Neste momento qualquer pretexto é válido para fazer uma pausa.
Pois é ando de volta de umas habitações em duplex!
Por mais que dê voltas, está difícil entrar!
Neste espaço imaginário, os também ficcionados utentes estão perante um problema.
Subir e descer de um piso para o outro.
Andam à procura de uma escada, mas não sabem onde é que o arquitonto as deixou.
É melhor despachar-me, antes que descubram que não podem passar da sala para os quartos.
Eh pá?! já está um a chamar os bombeiros...
Diz que está preso na varanda e que quer sair de casa.
Sacana, nem a vista o prendeu lá!
Vou mas é alterar umas coisas antes que desertem todos.
Perdi-me aqui em duas ou três linhas e os tipos do tí-nó-ní, já estão a subir a escadinha.
Vão-se lá embora que vou desencantar um sobe e desce.

23 de abril de 2004

o tempo passa!!

Desenho, risco, volto a riscar.
Não!
Não é este o caminho.
Volto a desenhar.
Mais um risco aqui,
Outro ali.
Hum!!?!
Ainda não está.
Scretschhhh!
Menos uma folha.
Volto atrás.
Ao início não!
Que eu tenho medo da folha em branco.
Hum!!
Ainda falta tanto...
E o tempo a passar.
Lá vou eu novamente riscar.

22 de abril de 2004

não sei...

se conseguem ver a imagem do post anterior.
esclareçam-me pfvr.
entretanto fiquem ai com o bill cosby que só vos faz bem ao astral.
quem não tiver som, vá lá tratar disso rápido que isto não vai ficar aqui por muito tempo.

19 de abril de 2004

ninho de cucos!

Falta uma semana para a entrega de projecto.
Prevejo uma semana de loucos.
Se começarem a ler frases tolas.
Não se preocupem, não estarei a ficar louco.
Embora já note umas semelhanças entre a minha expressão e a do jack nicolson.
Vamos lá ver se também ganho um oscar!

16 de abril de 2004

isto anda em obras

mudei umas coisas,
mas agora não se consegue ler os links aki ao lado.
enfim!
roma e pavia não se fizeram num dia.

15 de abril de 2004

até um dia!

Regresso agora do aeroporto.
Fui levar um amigo que se foi.
Disse-me hoje que ia para Buenos Aires.
E foi.
Vai agora a caminho de Madrid onde faz escala.
Vai e, leva um pouco de mim.
Os meus almoços e jantares vão agora ficar mais pobres.
Boa viagem meu amigo.
Até um dia.

13 de abril de 2004

sinopse

«este livro. passa um dedo pela página, sente o papel como se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto.

este livro tem palavras. esquece as palavras por momentos. o que temos para dizer não pode ser dito.

sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre a tua. damos as mãos quando seguras este livro.

não me perguntes quem sou. não me perguntes nada. eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.

pousa os lábios sobre a página. pousa os lábios sobre o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.»


josé luís peixoto, A Casa, a Escuridão.

12 de abril de 2004

apenas eu

Andei por ai, hoje, ontem, nem sei bem quando e, talvez nem importe quando foi.
O importante é que andei. Por onde? Também não sei.
Enfim andei...
Andei e cheguei aqui, a esta folha, a estas letras, palavras, frases. Cheguei a um lugar onde o pensamento cambaleia sem rumo. Li nesta caminhada um livro, ou apenas um texto, não sei, em que o autor me disse que o que ele escrevia, não era o que eu lia.
Não sei bem o que estou aqui a escrever, mas a ti que lês isto, pergunto-te, que lês tu?
Entendes alguma coisa? Talvez um dia mais tarde, quando eu próprio for o leitor destas palavras aqui reunidas, entenda o que escrevi, naquele dia em que não sabia bem por onde andava.
Estou só. Apenas eu e as minhas palavras.
Mais um cigarro. Portanto, eu, as minhas palavras, e o cigarro, ah! E as bolinhas de fumo, uma atrás da outra.
O
Acabei de fumar,
Juntamente com o cigarro foram-se as bolinhas.
Não sei mais que escrever.
Fiquei completamente só.
Apenas eu.
Foram-se as palavras.

há vida para além da morte

Mais do que uma perda de consciência democrática, o déficit, verificado na gestão territorial, revela uma perda de consciência a todos os níveis. Esta inconsciência profissional indica uma total displicência para com a sociedade e, uma lacuna grave na responsabilização.
Democraticamente, a nossa liberdade estende-se até que isso implique alterações na autonomia dos restantes indivíduos.
Com a função de gerir o espaço urbano, o urbanista é incumbido de exercer a sua função, aplicando da melhor forma os seus conhecimentos em prol de uma melhoria nas condições do lugar, tendo sempre em mente que esse território se insere numa realidade que está além dos limites da folha que delimita o seu território de intervenção.
Projectar cidade é saber ver além, no espaço e no tempo. É ter consciência da metamorfose físico-cultural que se desenvolve indefinidamente.
Nós morremos mas a cidade tem uma vida que perdura.

cidade abandonada

andei, por ruas
passei, por praças
corri aqui,
fugi dali,
acolá parei.
Senti, cheirei, ouvi, deixei de ouvir, cheirei novamente.

Cruzei-me com gentes, apoiei-me nelas,
Observei-as, fui observado...

fechei os olhos por breves instantes,
ouvi,
Deixei de ouvir,
ouvi-me,
abri os olhos...
onde estou??
Algures na cidade,
Não me ouço,
Tudo acontece em meu redor,
Tudo corre.

Que fará aquela pessoa parada?
Porque não corre?
Porque não anda?
Que estará ela a ver?

O mesmo que eu, quem sabe!?
Cidade, minha,
Tua
Deles,
Nossa,
Daquela pessoa.

Para onde irão todos?
Que caminhos seguem?
Estarão cá amanhã?
Voltarei eu a ver-te...
agora que te abandono?

Fecho a porta do meu carro.
Sigo pelas tuas ruas,
Mas não te oiço,
Não te vejo,
Vejo apenas os outros,
Metidos nos seus mundos,
Que estarão eles a ouvir?
Eu oiço-os, fazem barulho,
Não me deixam ouvir-te,
Estás algures,
Silenciada pela tua própria vida,
Pára!!!
Deixa-me ver-te, ouvir-te, sentir.
Deixa-os partir antes de mim.

Não!!
Estarias morta...
Estarias abandonada,
Não serias tu,
Serias outra cidade qualquer
Que não a minha.

10 de abril de 2004

::à inês::
Admirei-te!
Fiquei inebriado com os teus movimentos.
Dancei a teu lado.
A música que ouvias,
Também me percorreu o corpo.
Ainda não te foste ,
Mas a saudade de ti
Já ocupa o teu lugar.
Diverte-te amiga.
Quando voltares,
Dançaremos juntos novamente.

8 de abril de 2004

o barco

Percorro mais uma vez este caminho que a casa me leva.
Para trás daquele arco ficas tu.
Aqui onde estou preparo-me, vou saltar a cerca, vou sair, vou deixar-te, abandonar-te, vou ter com a outra.
Olhar-te-ei o caminho todo,
Ver-te-ei cada vez mais,
Cada vez mais distante,
Até que transformes numa linha que suavemente oscila.
Não te preocupes,
Ver-te-ei ainda passares de linha a volume, a mulher, a cidade.
E quando amanhã estiver de volta, abraçar-te-ei, que dali para onde vou consigo apenas ver-te.

Por mais que procure refúgio nas palavras, não o encontro.
Procuro, procuro, procuro e...
Nada.
Vasculho por entre as frases.
Volto a olhar para as palavras.
Esmiúço por entre as letras e...
Não encontro.
Mas que procurarei eu?
Desisto.
Vou fazer outra coisa.

7 de abril de 2004

::ron ron::
Acabei de falar agora contigo, noutra janelinha que não esta.
Dizias-me que ninguém te consegue definir. Pois é, há pessoas assim mesmo.
Tu és alguém que não deixa de estar, mesmo quando o silêncio se instala.
Obrigado amiga. Por o seres.

6 de abril de 2004

Silêncio.
Ao escrevê-lo, deixou de existir. Segundo o João Gaiolas, mais conhecido no mundo por John Cage, é algo que não existe. Ou existirá?
De que outra forma poderia eu quebrá-lo se este não existisse?
Pausa.
Fumei um cigarro.
Há silêncios, pausas. Na vida também se descansa.
De regresso, trazemos um pouco mais de nós.
A este sol que agora nos acalenta o espírito, apenas um, seja bem vindo.
O teu silêncio chegará num dos mil dilúvios deste mês.
Pausa...

2 de abril de 2004

onde se esconde o amor, quando tu não estás aqui?

repeat

Apetecia-me ver-te novamente, estar contigo, abraçar-te, beijar-te.
Apetecia-me fazer contigo amor, cheirar-te, ...hum! novamente beijar-te.
Apetecia-me despertar e, continuar a sonhar.

o dia da verdade!

Ia eu a caminho do restaurante, cometer um assassínio, mais conhecido por, matar a fome, quando, em conversa com o meu companheiro de crime, me apercebi que era hoje o dia das mentiras.
Chegados ao local do crime, aproximou-se um dos envolvidos no acto, o que nos tráz a arma, mais conhecido por empregado de mesa, que nos alerta para a mudança do nosso hino nacional. Sim, sim, foi a resposta que obteve. Após insistência, alertando-nos para o facto de ter visto a notícia na TV, lá desistiu lembrando-se então do propósito da nossa breve estada, o crime.
No entanto, durante o acto criminoso que ali estávamos a cometer, fomos novamente interrompidos com um, « é sério, ví nas notícias que o Paulo Portas, blá, blá, blá...», mais preocupados com o propósito que nos reunia à mesa, lá continuámos a cortar e a trinchar.
Terminado o crime, fiquei com a sensação de que aquela mentira fora dita na realidade como uma verdade, ou pelo menos que o nosso cúmplice de crime teria mesmo acreditado na dita notícia. Não pude confirmar se a notícia fora mesmo emitida ou se era apenas algo dito por forma a enfatizar o acto.
Verdade seja dita, este dia em que se mente não difere muito dos outros. Alterando a frase que nos diz que «o natal é todos os dias», podíamos também dizer que o dia da mentira não é um, mas sim todos os dias.
Diria mesmo que esta última frase é mais adequada a uma verdade quotidiana que aquela outra em que o natal se festeja todos os dias.
De facto, o natal não acontece num só dia, começa em Novembro ou Outubro, com a azáfama das compras estendendo-se até ao fecho das lojas no dia 24 de Dezembro.
Relativamente à mentira, esta acontece todos os dias, a qualquer hora ou momento.
O facto de se mentir na TV, ou num jornal, não é para nós novidade. Novidade seria haver um dia da verdade.
Deixo aqui o repto aos meus leitores de forma a que se institua este dia.
Peço ainda, aos digníssimos leitores, desculpa pelo facto de publicar esta crónica já no dia 2 e não no dia 1. Mas afinal o dia das mentiras é também hoje e, será amanhã novamente, repetindo-se até esse dia inédito que estará ainda por acontecer.

1 de abril de 2004

joaquim descritor

Gostaria de escrever algo, mas nem sei bem o quê, nem tão pouco por onde começar.
Enfim, talvez nem me preocupe com o início pois ele aconteceu umas palavras atrás.
Sem saber bem onde irei ter com este aparente discurso, continuo aqui persistentemente a debitar palavras que se vão agrupando sem acrescentar nada de novo, construindo frases sem pretensão alguma de construir um raciocínio com princípio meio e fim. Tal como num projecto de arquitectura, também o medo da folha em branco, não deve superar o acto criativo. Devemos começar, às vezes intuitivamente, as ideias surgem e, aquilo que parecia um gesto irreflectido, pode mostrar-se mais tarde num verdadeiro rasgo criativo.
Enfim, num desenho talvez seja mais fácil desenvolver uma ideia ou ir riscando até que o conjunto de formas ou manchas, nos apontem um caminho.
As palavras teimam em surgir, devo entender isto como uma interrupção no raciocínio ilógico que estava a desconstruir. Devo ter-me enganado na palavrinha, já que para descontruir é necessário saber construir, já dizia o meu professor de história de artes, sobre o desconstrutivismo russo. E eu efectivamente não sou lá muito dado à sapiência da escrita. Por isso chamemos-lhe outra qualquer coisa que não esta. Considerem-me um assassino da escrita. Qual Joaquim estripador, farei disto um modo operativo. Obedecerão então estes homicídios, a um qualquer padrão que não poderá ser aqui revelado. Fiquem atentos às minhas próximas crónicas, e encontrarão certamente um vontade ainda que reprimida de violentar este acto, que é escrever.
Escrever ou descrever, melhor dizendo. Segundo um amigo acrescento o prefixo des e obtenho o contrário ou será o contrario?! E o contrário de contrário será descontrário?
E descontrariar é ir ao encontro de?
Isto está a levar um caminho que eu certamente não compreendo, nem tão pouco me darei ao trabalho de tentar retirar daqui algum entendimento. Enfim devaneios. Não sei como acabar isto, por isso pergunto. Como é que conseguiste ler esta ***** até aqui?