Ia eu a caminho do restaurante, cometer um assassínio, mais conhecido por, matar a fome, quando, em conversa com o meu companheiro de crime, me apercebi que era hoje o dia das mentiras.
Chegados ao local do crime, aproximou-se um dos envolvidos no acto, o que nos tráz a arma, mais conhecido por empregado de mesa, que nos alerta para a mudança do nosso hino nacional. Sim, sim, foi a resposta que obteve. Após insistência, alertando-nos para o facto de ter visto a notícia na TV, lá desistiu lembrando-se então do propósito da nossa breve estada, o crime.
No entanto, durante o acto criminoso que ali estávamos a cometer, fomos novamente interrompidos com um, « é sério, ví nas notícias que o Paulo Portas, blá, blá, blá...», mais preocupados com o propósito que nos reunia à mesa, lá continuámos a cortar e a trinchar.
Terminado o crime, fiquei com a sensação de que aquela mentira fora dita na realidade como uma verdade, ou pelo menos que o nosso cúmplice de crime teria mesmo acreditado na dita notícia. Não pude confirmar se a notícia fora mesmo emitida ou se era apenas algo dito por forma a enfatizar o acto.
Verdade seja dita, este dia em que se mente não difere muito dos outros. Alterando a frase que nos diz que «o natal é todos os dias», podíamos também dizer que o dia da mentira não é um, mas sim todos os dias.
Diria mesmo que esta última frase é mais adequada a uma verdade quotidiana que aquela outra em que o natal se festeja todos os dias.
De facto, o natal não acontece num só dia, começa em Novembro ou Outubro, com a azáfama das compras estendendo-se até ao fecho das lojas no dia 24 de Dezembro.
Relativamente à mentira, esta acontece todos os dias, a qualquer hora ou momento.
O facto de se mentir na TV, ou num jornal, não é para nós novidade. Novidade seria haver um dia da verdade.
Deixo aqui o repto aos meus leitores de forma a que se institua este dia.
Peço ainda, aos digníssimos leitores, desculpa pelo facto de publicar esta crónica já no dia 2 e não no dia 1. Mas afinal o dia das mentiras é também hoje e, será amanhã novamente, repetindo-se até esse dia inédito que estará ainda por acontecer.
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