24 de setembro de 2004

viagem ao mundo dos sonhos

À hora combinada lá estava eu, perdido numa rua ao lado, à procura do dito café onde ficámos todos de nos encontrar. Subi e desci a rua que nos leva do Saldanha à Estefania. Pedi orientações a algumas pessoas e, tinha a sensação de ser aquela a rua onde se encontra o ciné-estúdio 222 mas, deram-me várias indicações valiosissímas para um maior atraso. Uma mulher que passava na rua acompanhou-me a uma outra, transversal, dizendo-me que era ali logo à frente. Em frente ao dito, deparo-me com o ciné-bolso. Embora tivesse chegado a um cinema não me servia o propósito. Eu procurava mesmo um café que dá pelo nome de capuccino, pertinho do tal cinema que ninguém me soube indicar e onde eu não cheguei por pura distracção. Eu já lá tinha ido ver um ou dois filmes e lembrava-me que não tinha andado muito desde o saldanha, era ali a meia dúzia de passos. Voltei atrás e lá cheguei ao café onde me esperavam companheiros de outras andanças, de outros tempos.
1996, foi o ano em que se deu o primeiro encontro das almas que ali se reviam e, na altura os tempos eram outros. Ninguém tinha nem pensava em ter filhos. Tempo em que ninguém sabia muito bem o que o futuro traria. Agora, o futuro chegou e trouxe uma filha à Mafalda, que é uma miúda linda e nos olha quando ouve o nome Leonor e, com um pouco de sorte, nos esboça um sorriso caso nos encontre alguma peculiaridade hilariante. Neste futuro, que foi ontem, encontrei também uma mãe em gestação preocupada em não fumar, diga-se, com êxito na demanda. Deparei-me com outro ser alterado pelo síndroma da paternidade que se juntou às meninas numa interessada conversa sobre roupas para crianças.
Já se fazia tarde, quando nos pusemos a caminho de um restaurante, ali perto e, mesmo em frente ao teatro onde acabámos por ir ver o “the scum show”, não sem antes jantar com o Alexandre co-responsável pelas mais recentes preocupações da Rita em deixar de fumar.
Não vou comentar a peça porque poderia ser tendencioso (e quem sou eu para comentar teatro?), mas preparem-se para encontrar deliciosos pormenores de encenação acompados por um magnífico som da responsabilidade dos the gift, cujo CD me acompanha agora neste acto de escriba. Esquecendo um pouco as obrigações deste futuro que virou presente, lá resolvemos continuar a noite por um momento mais...
Acabei com o Pedro e com a Sofia no café onde nos encontrámos antes da peça. Uns copos mais tarde, e muita palavra gasta em primeira mão, lá decidimos continuar a reposição dos factos noutro encontro, a realizar na casa da Sofia, que talvez chegue a acontecer.
Fui para casa ao encontro de umas parcas horas de sono, ciente do quão difícil seria ouvir o despertador no dia seguinte e chegar a horas ao trabalho, quando fui assaltado pela sensação de estar de volta numa viagem pelo tempo tendo chegado a um lugar onde os sonhos se desvaneciam numa realidade de ténues ambições.
Deitei-me e sonhei com o amanhã, mas esse está ainda por escrever.

16 de setembro de 2004

re-escrita

Teclas e mais teclas que se rebaixam no confronto dos meus dedos,
recriando pensamentos que surgem fortuitos no ecrãn.
Palavras que se escrevem e que se apagam sem deixar rasto,
sem memória de ter um dia existido.
Tentativas vãs de descrever algo que não se escreve.
Encontros e desencontros.
Reencontros que acontecem sem pressões, sem confrontos,
palavras que voltam para serem lidas, sentidas.
Sentimentos que voltam, em silêncio, sem nunca ter partido.
Folhas em branco que carregam em si a memória de páginas soltas,
Uma história que se escreve, que se continua.

4 de setembro de 2004

just words

Não tinha nada para fazer e resolvi escrever umas letras, na expectativa que elas se unissem e dessem algum sentido a uma frase que transmitisse tanto ou tão pouco. Escrever para ti, palavras que crescessem à medida que fossem lidas, quem sabe até acrescidas pelo saber de ti que me lês.
Escrever pelo gozo que dá transcrever um pensamento à espera que chegue a emoção, à espera que venha a inspiração e que dê sentido ao que lês.
Continua a ler, ou pára e segue a tua própria escrita, o teu próprio pensamento, faz o que quiseres, deixa correr a tinta, deixa fluir o pensamento.
Lê outro texto, fecha a janela, vai dar uma volta, vai ao cinema, ou continua a ler isto que nada te diz, senão que a mim me deu para escrever ao sabor das palavras, ao ritmo das teclas.
Escrevo sem sentido, sem rumo, sem querer chegar a conclusão alguma, na certeza de que o pensamento continuará quando chegar o ponto final, quando as letras se esgotarem em palavras que se repetem que nada acrescentam às antecedentes.
Letras, palavras, frases desmemoriadas todas juntas para dizer, nada.