29 de julho de 2004

foi

O tempo passa e leva consigo mais uma dia da vida de todos,
Pessoas e mais pessoas,
com pressa,
com vagar,
andando, correndo.
Como ontem, também hoje continuam a passar, uma e outra vez, para um lado e para o outro... Seguem apressadas receando chegar atrasadas ao resto das suas vidas. Enquanto o fazem, esquecem-se de ir vivendo,
Esquecem-se de cheirar,
de olhar,
de falar com o outro que também segue apressado
e do outro ainda que deixaram para trás em passo lento e incompreendido.
Não há tempo, dizem.
Amanhã, quando deixarem de correr atrás do tempo, talvez vejam que era impossível agarrá-lo.
Mas será tarde demais, porque o tempo não perdoa, segue o seu rumo transformando o futuro em passado, ambições em memórias que também um dia se perdem num passado que está por acontecer, em que o presente não mais é...

27 de julho de 2004

antes das horas

Um miúdo chuta uma bola,
E o pai atira-se ao chão com grande alarido,
Fazendo-lhe crer que fora um grande remate,
Sorriso e novo remate,
Mesmo ao lado uma bola que vagueia entre duas raquetes,
Toc...,...Toc,Toc...,...Toc
Um casal sentado mais adiante num mundo que a eles pertence.
Alguém que chama pelo meu nome,
Uma e duas vezes, até que eu perceba que é mesmo por mim que chamam,
Um amigo que pergunta se quero ir jogar futebol com mais três marmanjos,
Enfim, resolvo continuar a fazer nada.
Um senhor que me pergunta se quero gelados, ou água e que segue perguntando a outros mais,
Uns quantos putos que passam em correria atrás de um bikini vermelho que segue aos gritos, em direcção da água,
Areia para cima de mim,
Um calor imenso que me rodeia,
A areia que se me pega,
Uma amiga que me pergunta,
Queres ir à água?
O que vos digo?
A praia estava óptima,
mas sequei-me e agora são horas de trabalhar.
Seria bom poder dizer que é para o bronze, mas não.

24 de julho de 2004

no silêncio das palavras

Palavras que voam entre cá e lá,
Palavras tuas,
Palavras minhas,
Nossas,
Palavras deles que nos lêem.
Insignificantes letras que se unem para te dizer...
Para te dizer aquilo que tu já sabes,
Palavras que não se dizem,
Palavras que não se escrevem,
Essas que não se ouvem,
Palavras que eu não penso,
Palavras mudas, cheias de sentimento,
Sabes quais são, não sabes?
Sim essas mesmas, as palavras sem som que eles não lêem.
Palavras que eu sinto,
Palavras que tu lês ainda que eu não escreva.

20 de julho de 2004

vidas que passam

Alguém que passa entre muitos outros deixando não mais que a memória de uma rápida fuga do meu horizonte.
Lá fora é assim, entre uns e outros, todos passam alheios ao que aqui se passa, alguns olhares fortuitos, uma ou outra pessoa que se aproxima para ver o que aqui se faz.
Aqui dentro observo-os, alheios que estão do meu olhar, faço-o sem pudor, olho-os de alto a baixo. Pessoas e mais pessoas, a passos lentos, rápidos, a correr, olho-os metidos que estão nas suas vidas.
Parou alguém mesmo aqui em frente, uma elegante mulher, camisola branca, mala preta em pele com umas riscas lisas de um qualquer tecido, a tiracolo. Um telemóvel fez com que ela parasse aqui, sujeita ao meu voyerismo, observo uma saia preta e logo desvio o olhar para as pernas que trazem à memória lembranças de uma praia, escondida algures no passado.
Desligou o telemóvel, e voltou no sentido inverso ao que levava. Alguma coisa terá acontecido, mudando o seu rumo. Alguma coisa fará com que as pessoas passem aqui e sigam o caminho, rumo às suas vidas. E eu seguí-las-ei até que se desvaneçam no resto das suas vidas.



15 de julho de 2004

3.80mx3.50m

4 paredes brancas, tecto branco com dois projectores com lampadas de hálogeneo dicróicas.
Em frente, uma parede com 3 painéis A3.
Atrás uma estante branca, quadrada com 16 nichos de arrumação.
Atrás à direita um estirador com o tampo inclinado e uma mala pendurada, atrás dele, uma janela por onde o sol espreita pelos orifícios das persianas.
À esquerda um quadro de 1.50mx0.80m em tons quentes pendurado na parede por cima de uma cama à esquerda da porta entreaberta por onde se vê o corredor e a sala ao fundo.
À direita, um desenho do Tobias, o gato que dorme neste momento na cama encostada à parede à minha esquerda.
No chão, um tapete com um dos cantos levantado pela perna da cadeira onde me sentei para escrever nem sei bem o quê!


12 de julho de 2004

silêncio interrompido

- Disseste alguma coisa?
- não. Porquê?
- pareceu-me ter ouvido.
- pois, mas não disse nada.

9 de julho de 2004



e foi assim, com a entrega deste e de outros projectos que acabou mais um ano lectivo.

8 de julho de 2004

hoje é assim

Fecha-se um ciclo.
Descanso por um instante.
Desperto para um novo momento,
atordoado,
sem saber ainda o que fazer.
Estranha sensação,
esta do término com sabor a meio.
O vazio do fim toma conta de mim.

5 de julho de 2004

palavras emprestadas

«... Mas nos seus oito curtos meses de vida a agência só fez um trabalho, uma campanha para uma das empresas do pai do Pedro que nós três achamos genial mas o velho mandou pagar e nunca usou. Pelo menos pagamos o alugel atrasado e a minha enorme conta do telefone. Fechamos a agência, nos sentindo incompreendidos e injustiçados, no dia em que a minigeladeira na sala do saulo pifou. Concluímos que sem gelo não dava para continuar.»


in gula- o clube dos anjos, luis fernando verissimo

3 de julho de 2004

lá fora

Caminhei por entre gentes,
iam todos naquele estado,
de semblante ensimesmado.
Para onde seguiam?
Não sei,
Caminhavam rumo a lado algum,
ia cada um no seu mundo moribundo.
E eu?
Lá continuei no meio de outros rostos,
No meio de outras gentes,
Sem lhes conhecer as mentes,
Sem lhes roubar um pensamento,
Sem ouvir um argumento.
Aqui?
Vive-se outra história, outro sentimento.

1 de julho de 2004

hã?

Gostava de ser atingido por ti,
pelas tuas palavras,
Aquelas que tu não dizes,
Sim,
por essas mesmas,
As que eu não te ouço dizer.