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lá estava eu numa terra onde nunca houvera posto os pés, ao abrigo de uma língua esquecida algures no liceu ou talvez nunca aprendida. Lá consegui apanhar o autocarro e olhei atento, o caminho todo, as pessoas, os edifícios e as ruas cheias de vida.Com um pequeno vislumbre da cidade, desci ao subsolo e fui levado pelo metro ao encontro do amigo que me esperava na silmo, uma importante feira de óptica. Aí começou uma pequena incursão ao mundo das armações, das lentes e dos expositores que as mostravam. O primeiro impacto foi o de achar que era a única alminha que não trazia consigo uns óculos, último modelo, com uma cor extravagante. Nada, entre mim e a pessoa que olhava, apenas os meus olhos. Senti-me nú e um ser de outro planeta. Lá encontrei um ou outro adepto da nudez, mas todos juntos não podíamos formar uma banda, por certo faltar-nos-ia o baterista ou o percussionista, quem sabe, o vocalista. Caíram por terra todas as minhas ambições de criar uma banda que ficaria conhecida por opticalnaked e aspirar a um lugar no top +. O pavilhão por onde iniciei a visita à exposição era o pavilhão trend, ou seja, o mais inovador, ou mais criativo, ou mais esquisito, como queiram.Nos dois dias que se seguiram alternou-se um pavilhão e outro sempre numa acelerada, no entanto, selecta escolha da nova colecção. Nada que uns olhos já de si treinados e um rigoroso sentido estético não ajudem a levar a bom cabo. E para que não comecem com comentários ou pensamentos sobre o meu egocentrismo, referia-me ao meu amigo. Nessa tarefa fui apenas um observador, tecendo aqui e ali um ou outro comentário, tentando ajudar numa ou noutra escolha, para mim mais fáceis e mais óbvias, tentando sempre perceber porque era este ou aquele modelo escolhido e aquele outro posto de lado.
Ia também tirando umas sorrateiras fotos aos modelos escolhidos, a pretexto das quais fui chamado à atenção inúmeras vezes. Fazia sempre um ar parvo e atónito em sinal de uma ignorância pelas normas da casa.
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Fora deste mundo à parte de paris, deu ainda para ir vendo a cidade.Os lugares comuns e outros menos calcados pelos pés dos turistas, nos quais eu me incluo orgulhosamente.Fiquei com a sensação de ter despoletado algumas animosidades pelo macarrónico francês com que abordava as pessoas. Também eu ficaria chateado por ouvir alguém assassinar a minha língua, com tanto empenho como o faço. Enfim, estão desculpados por algum episódio menos simpático. Mea culpa. Paris é todo o conjunto de pessoas com que tive a oportunidade de falar, conhecendo-lhes as mais variadas origens.
Paris é a frustração sentida ao apagar as fotografias de um dia por mero descuido,
É também o cansaço sentido ao subir as escadas, do metro e do escadório, que nos levam à igreja do sagrado coração (não vale a pena tentar escrever em francês, não sei mesmo).
Paris é ainda aquele espectáculo de órgão na catedral de nossa senhora, é a chuva miudinha que caiu ali pertinho do sena e o medo que esta passasse a miúda ou a sra.
paris é aquela loja, onde fui mal atendido, é o senhor que atenciosamente explicou o caminho, é o curioso alemão que personificou um turista excursionista,
é a velhinha que faz caricaturas de quem janta em troca de 5 euros,
é o sr. do escadório que me explicou o porquê da mudança de cor na torre que se iria verificar naquela noite,
é o constante saltar das cancelas do metro, paris é ainda o conjunto de japoneses que por mim passaram no louvre, cheios de pressa, para poderem tirar uma fotografia à mona lisa.
Paris é a linda miúda que me pediu um cigarro com um sorriso esboçado.
É a mulher bonita que eu vi repetidamente, sentada no metro, na esplanada de saint dennis , no meio da multidão, à porta da vogue.
Paris é tudo isso, tudo o mais que eu vi, e tudo o que ficou por ver...
paris será um dia paris.